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Unidade 2


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Introdução

Olá, caro(a) aluno(a)!

Apresentamos, nesta segunda discussão, os temas: jogos e brincadeiras.

As abordagens tratadas nesta unidade nos possibilitam refletir um pouco mais acerca da função do seguinte item: “Desenvolvimento infantil por meio de jogos: o jogo e a brincadeira”.

Os dois temas, jogos e brincadeiras, fazem parte do planejamento do educador quando na Educação Infantil. Porém, devemos sempre ter em mente a diferença dos significados para explorar os momentos e aproveitar o máximo de cada um deles.

No tópico “Intervenções com jogos, brincadeiras e brinquedos”, discorremos sobre a importância da reflexão da atuação do professor na condução das atividades desenvolvidas pelos alunos, não deixando de enfatizar a importância do seu papel nesse processo tão enriquecedor na fase da criança.

Vocês conhecerão alguns autores que defendem esses momentos e que nos explicam, de maneira “simples” e dinâmica, como podemos utilizá-los no nosso dia a dia.

Desenvolvimento infantil por meio de jogos: o jogo e a brincadeira

Iniciamos a nossa discussão nesta unidade abordando o que entendemos e o que se espera do conceito “jogo” e do conceito “brincadeira” no desenvolvimento infantil. Muitas vezes, confundimos a palavra “jogo” como algo que sempre deverá ter um ganhador e um perdedor e que sempre terá uma competição a ser realizada para que a sua atuação aconteça, seja ela no âmbito escolar, seja ela nas atividades de lazer. Já o termo “brincadeira” entende-se como uma ação que acontece de forma tranquila e prazerosa.

Antunes (2003, p. 9) discorre sobre a importância de sabermos mesclar a palavra “jogo” como um ato educativo, uma vez que, no contexto escolar, ela “[...] se afasta do significado de competição e se aproxima de sua origem epistemológica latina, com sentido de gracejo ou mais especificamente divertimento, brincadeira, passatempo”. E é o mesmo entendimento que temos do conceito “brincadeira” como parte do processo que acontece no cotidiano das crianças, sem cobrança e sem regras.

O mesmo autor ainda pondera que:

[...] os jogos infantis podem até excepcionalmente incluir uma ou outra competição, mas essencialmente visam estimular o crescimento e aprendizagens e seriam melhor definidos se afirmarmos que representam relação interpessoal entre dois ou mais sujeitos [...] mesmo que esse sujeito seja imaginário [...] realizada dentro de determinadas regras (ANTUNES, 2003, p. 9).

Kishimoto (1997, p. 21) apresenta, em suas pesquisas, que, a partir da descoberta da infância e da associação com o brincar e a criança, tem-se entendido o brinquedo e a brincadeira como:

[...] objeto, suporte da brincadeira, supõe relação íntima com a criança, seu nível de desenvolvimento e interdeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organize sua utilização. Uma boneca permite à criança desde a manipulação até brincadeiras como “mamãe e filhinha”. O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Ao contrário, jogos, como xadrez, construção, exigem, de modo explícito ou implícito, o desempenho de habilidades definidas pela estrutura do próprio objeto e suas regras.

Já Friedmann (2006a, p. 69) discorre que “[...] os jogos são sistemas complexos de regras, e as regras morais, por sua vez, foram recebidas pelas gerações anteriores de adultos ao passo que os jogos sociais comportam regras elaboradas pelas crianças”.

Henriot (1989, p. 7) apresenta o termo jogo como:

[...] todo processo metafórico resultante da decisão tomada e mantida como um conjunto coordenado de esquemas conscientemente percebidos como aleatórios para a realização de um tema deliberadamente colocado como arbitrário.

Para Piaget (1978, p. 217), o jogo é:

[...] uma expressão de uma das fases dessa diferenciação progressiva: é o produto da assimilação, dissociando-se da acomodação antes de se reintegrar nas formas de equilíbrio permanente que dele farão seu complemento, ao nível do pensamento operatório ou racional [...] o jogo constitui o pólo extremo da assimilação do real ao eu.
Figura 2.1 - Criança em momento de brincadeira possibilitando o seu desenvolvimento desde os primeiros momentos de sua infância
Fonte: Fotorech / Pixabay.

Mas então, qual é a diferença entre o jogo e a brincadeira? Pesquisadores franceses como Brougère (1993) e Henriot (1989) desmistificam o jogo a partir de 3 níveis de diferenciações, sendo: (1) o resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social; (2) um sistema de regras; e (3) um objeto (KISHIMOTO, 2011). Segundo a pesquisa dos franceses:

1. o sentido do jogo depende da linguagem de cada contexto social [...] enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui [...] cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem.
2. um sistema de regras permite identificar, em qualquer jogo, uma estrutura sequencial que especifica sua modalidade [...] tais estruturas sequenciais de regras permitem diferenciar cada jogo, permitindo superposição com a situação lúdica, ou seja, quando alguém joga, está executando as regras do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma atividade lúdica.
3. refere-se ao jogo enquanto objeto [...] objeto empregado na brincadeira (KISHIMOTO, 2011, pp. 18-20).

Nesse sentido, podemos considerar, então, que o brinquedo/brincar é diferente de jogo/jogar. O momento do brincar possibilita a ausência das regras, diferente dos momentos possibilitados pelos jogos, não precisando, dessa forma, que existam regras para que a criança domine o seu objeto ou o seu espaço (KISHIMOTO, 2011).

O brincar é fundamental para o nosso desenvolvimento. É a principal atividade das crianças quando não estão dedicadas às suas necessidades de sobrevivência (repouso, alimentação, etc.).Todas as crianças brincam se não estão cansadas, doentes ou impedidas. Brincar é envolvente, interessante e informativo. Envolvente porque coloca a criança em um contexto de interação em que suas atividades físicas e fantasiosas, bem como os objetos que servem de projeção ou suporte delas, fazem parte de um mesmo contínuo topológico (MACEDO; PETTY; PASSOS, 2005, p. 14).

Bomtempo (1996, p. 81) institui que, se quisermos conhecer bem as crianças, devemos conhecer os seus brinquedos e as suas brincadeiras. Ela discorre que:

[...] brincar representa um fator de grande importância na socialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver numa ordem social e num mundo culturalmente simbólico. Brincar exige concentração durante grande parte de tempo, desenvolve iniciativa, imaginação e interesse. É o mais completo dos processos educativos, pois influencia o intelecto, a parte emocional e o corpo da criança.

Os autores ainda apresentam as diferenças entre o brincar e os jogos. Para eles, em alguns momentos distintos, o brincar e os jogos se completam.

[...] o jogar é um dos sucedâneos mais importantes do brincar, ou seja, jogar é brincar em um contexto de regras e com um objetivo predefinido [...] o brincar é um jogar com ideias [...] no jogo ganha-se ou perde-se [...] na brincadeira, diverte-se, passasse um tempo, faz-de-conta [...] nos jogos às delimitações [...] o jogar é uma brincadeira organizada [...] o jogo é uma brincadeira que evolui [...] a brincadeira é uma necessidade da criança (MACEDO; PETTY; PASSOS, 2005, p. 14).

Kishimoto (2011, p. 26) apresenta a representatividade da brincadeira segundo a teoria piagetiana. Nessa teoria,

[...] a brincadeira não recebe uma conceituação específica. Entendida como ação assimiladora, a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta, dotada de características metafóricas como espontânea, prazerosa, semelhantes às do Romantismo e da biologia. Ao colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não da estrutura cognitiva, Piaget distingue a construção de estruturas mentais da aquisição de conhecimentos. A brincadeira, enquanto processo assimilativo, participa do conteúdo da inteligência, à semelhança da aprendizagem.

A seguir, associamos o jogo à aprendizagem significativa, segundo os estudos de Antunes (2003, pp. 32 e 33) sobre Piaget, nos quais expõe a aprendizagem x jogo:

1. (1) A aprendizagem resulta da recepção e troca de informações entre o meio ambiente e diferentes centros nervosos do cérebro. Assim, o meio ambiente fornece estímulos que são transformados pelo córtex cerebral em sensações que muitas vezes são “usinadas” e evoluem para estágio mais complexo a que se dá o nome de percepções, isto é, imagens com significados. (2) Dessas áreas, o estímulo rapidamente associa-se a saberes contidos no cérebro (A) e evolui para percepção mais global. (3) Ainda em mutação, as zonas secundárias e terciárias do córtex transformam essa percepção em imagens sensoriais, o que, entretanto, requer a imprescindível colaboração da linguagem, mesmo que seja a linguagem interior. Assim, linguagem e memórias começam juntas, desenvolvem-se unidas e uma sempre necessitará do apoio da outra.
(4) Como produto desses processos neuronais, temos a assimilação (B) e seus “produtos” mais importantes: aprendizagem e pensamento, que são desmembrados em coisas diferentes apenas para sua análise e melhor compreensão. (5) Entre os fatores facilitadores da aprendizagem, cabe destacar a motivação, a curiosidade e alegria da descoberta, a satisfação pelos resultados alcançados, o elogio, o bom e estimulante ambiente, a empatia do professor e a simpatia dos colegas, e tudo isso resumido nas expressões Afetividade e Ternura. (6) Provavelmente, não existe qualquer outro recurso material ou não que como jogo possa propiciar a integração de todos os elementos facilitadores que envolvem a Afetividade.
(A) O conhecimento não é “cópia da realidade”, mas uma reconstituição da informação que chega, sua usinagem pela mente e associação com os saberes existentes na memória. Aproxima-se mais de um “desenho” que de uma cópia. (B) A assimilação é uma transformação da sensação de forma a torná-la compatível com nossas estruturas mentais, que, por sua vez, dependem da maturação.

Quadro 2.1 - Aprendizagem x Jogo
Fonte: Antunes (2003, p. 12).

Figura 2.2 - A associação do jogo com a prática
Fonte: Sergein / 123RF.

O autor citado ainda pondera, a partir dessa exposição, que:

[...] saberes não são cobaias que vêm de fora ou se captam do meio, mas sim processo interativo de construção e reconstrução interior e, dessa forma, jamais será cópia da realidade. Poucas atividades desenvolvidas pela criança em sua interação com o ambiente podem abrigar tantos estímulos [...] como as experiências e os jogos (ANTUNES, 2003, p. 33).

Segundo Kishimoto (2011, p.26),

[...] a partir da teoria de Freud “a brincadeira infantil é o meio de estudar a criança e perceber seus comportamentos”, para Klein a brincadeira é usada “como meio de diagnóstico de problemas das crianças” e para Vygotsky e Bruner “focalizam o contexto sociocultural e a estrutura da linguagem para subsidiar o estudo da brincadeira”.

Vygotsky (1984, p. 63) discorre que:

[...] se todo brinquedo é, realmente, a realização na brincadeira das tendências que não podem ser imediatamente satisfeitas, então os elementos das situações imaginárias constituirão, automaticamente, uma parte da atmosfera emocional do próprio brinquedo. Consideremos a atividades da criança durante o brinquedo. Qual o significado do comportamento de uma criança numa situação imaginária?

Podemos entender, portanto, que as regras impostas no brincar são diferentes das regras impostas nos jogos, mesmo sabendo que, em situações imaginárias como o brincar, as crianças podem formar as suas próprias regras. Os jogos e as brincadeiras são decisivos no desenvolvimento das crianças, pois as colocam em diferentes situações com problemas que possibilitam significados diferentes.

Intervenções com jogos, brincadeiras e brinquedos

Durante as nossas conversas e explicações sobre a importância dos jogos, das regras, do brincar, das brincadeiras e das intervenções dos professores nesse contexto, podemos considerar que a “[...] qualidade do ensino através dos jogos jamais se manifesta por sua quantidade, mas pela maneira como suas regras são colocadas em ação [...] fazendo do jogo uma ferramenta de reflexão e uma experiência vivenciada” (ANTUNES, 2003, p. 55).

Concordamos com o autor e, dessa maneira, consideramos que o ensino deve favorecer aos alunos uma participação ativa como processo educativo. Ortiz (2005, p. 10) pondera que “[...] deve-se estimular as atividades lúdicas como meio pedagógico que, junto com outras atividades, como as artísticas e musicais, ajudam a enriquecer a personalidade criadora, necessária para enfrentar os desafios da vida”. Esse é o papel do educador! Oportunizar momentos e intervir, quando necessário, para o desenvolvimento da aprendizagem significativa.

SAIBA MAIS

A importância do brincar

Convido você a ler a reportagem de Fernanda Heygi, intitulada “Importância do brincar: 11 motivos para o seu filho se divertir muito”, e conscientize-se sobre como é relevante para a Educação Infantil o valor das brincadeiras.

<https://glo.bo/2N9Nafv>.

Para que isso aconteça, conforme definem Garófano e Caveda (2005, p. 61),

[...] é necessário que o adulto /educador considere o seu papel de mediador entre o aluno e as novas aprendizagens, devendo preparar um ambiente que favoreça a predisposição ativa da criança para a aprendizagem, proporcionando materiais potencialmente significativos para motivação e apresentando-o de forma adequada.

Friedmann (2006b, p. 43) apresenta, de forma simplificada, algumas características do instrumento metodológico que devem ser analisadas durante a atividade lúdica aplicada pelo educador, para a sua intervenção:

Definição dos objetivos da atividade lúdica
  1. Diagnosticar:
    ●     estágio de desenvolvimento.
    ●     ideias, valores, interesses e necessidades de grupo.
    ●     comportamento das crianças.
    ●     habilidades individuais.
    ●     conflitos, problemas. A partir da observação:
    ●     registrar o brincar espontâneo.
    ●     analisar a atividade desenvolvida.
    ●     elaborar um arquivo de atividade lúdicas.
    B. Propor desafios:
A partir da escolha de atividades dirigidas, estimular:
        ●     desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, físico-motor, linguístico, moral, espiritual.
        ●      aprendizagem específicas.
  C. Trocar experiências e observações: Troca de experiências e observações entre os professores e com a coordenação, ampliando o olhar.

Quadro 2.2 - Definição dos objetos da atividade lúdica
Fonte: Friedmann (2006b, p. 33).

Além dos instrumentos de análise e a intervenção do professor, o mais importante é:

[...] garantir que, no contexto escolar, a aprendizagem seja contínua e desenvolvimentista em si mesma, e inclua fatores além dos puramente intelectuais. O emocional, o social, o físico, o estético, o ético e o moral se combinam com o intelectual para incorporar um conceito abrangente de “aprendizagem”. Cada fator é interdependente e inter-relacionado para produzir uma pessoa racional, com pensamento divergente e capacidade de resolver problemas e questionar em uma variedade infinita de situações e desempenhos. O nível desta operação, é claro depende dos relacionamentos idade/estágio de desenvolvimento e experiência (MOYLES, 2002, p. 44).
Figura 2.3 - O processo de desenvolvimento
Fonte: Cathy Yeulet / 123RF.

A autora ainda pondera que nós, professores, devemos nos perguntar: para qual processo a criança passará após a etapa presente? O que ele precisará aprender para progredir? A progressão pode ser atingida a partir de brincadeiras dirigidas e observadas pelo professor? Qual intervenção a criança vai precisar a partir daquela etapa? (MOYLES, 2002). A mesma autora afirma que, a partir das observações, podemos conseguir respostas e refletir sobre cada uma delas.

Que recursos e atividades? ●     são usados mais frequentemente no presente e por quê?
●     estimulam o brincar e a concentração mais prolongados?
●     estimulam a independência e a autonomia nas crianças?
●     estimulam as crianças a conversar (a) com seus colegas e (b) com adultos e promovem conversas mais longas?
●     promovem mais discussão dos resultados?
●     estimulam o brincar e a aprendizagem cooperativos?
●     estimulam o brincar solitário e/ou paralelo?
●     desenvolvem mais efetivamente as habilidades de coordenação, manipulação, imaginação e criatividade?
●     desenvolvem entendimentos, valores e conhecimentos matemáticos, científicos, ambientais, geográficos, históricos, religiosos e estéticos?
●     estimulam mais a criança a elaborar a partir de seu brincar, a usar sua imaginação, habilidades, conhecimentos, a resolver problemas com persistência e cuidado?
●     estimulam mais uma abordagem multissensorial à aprendizagem?
●     estimulam a criança a explorar questões morais e éticas?
●     tendem a produzir comportamentos agressivos ou inadequados nas crianças?
●     parecem mais populares quando um adulto está presente ou envolvido?
●     são mais úteis para determinados tópicos?

Quadro 2.3 - Perguntas que possibilitam a reflexão no processo de ensino e aprendizagem por meio da brincadeira ou jogos
Fonte: Moyles (2002, p. 24).

Podemos considerar, então, que a brincadeira dirigida, na qual haverá intervenção caso necessário, terá uma abordagem formativa, ou seja, ela ampliará o desempenho e a aprendizagem, estimulando que ela poderá pensar sozinha para chegar ao seu resultado.

Porém, podemos considerar, também, que a atitude do professor ou do adulto, na intervenção, fará toda a diferença. Hislam (2006, p. 60) identifica que:

[...] as crianças certamente são influenciadas e captam essas atitudes dos professores sejam elas exigidas em nível consciente ou inconsciente. Essenciais no processo de influenciar a qualidade e a variedade do brincar imaginativo são as decisões tomadas pelos educadores, não só sobre os momentos em que é apropriado intervir mais diretamente no brincar infantil, mas também sobre a provisão concreta de materiais e a modelagem de seu uso por parte dos iguais e dos adultos.

Abbott (2006, p. 104) apresenta que “[...] a sensibilidade de saber como e quando intervir no brincar – ou não – é necessária e depende do conhecimento a respeito das crianças e da natureza do próprio brincar”. Na intervenção no brincar sociodramático, Kitson (2006, p. 118) postula que:

[...] permite ao adulto participante manter a atividade em andamento, motivando as crianças a persistir. Enquanto algumas crianças participam espontaneamente, outras precisam se orientadas e incentivadas a desempenhar um papel completo. O adulto pode ajudar a modificar a história a fim de unir o grupo e entusiasmá-lo pela tensão introduzida na história. Essa união e empolgação são essenciais no desenvolvimento do brincar sociodramático, mas as crianças pequenas têm dificuldade em atingi-las sozinhas.

Dessa forma, entendemos que a participação do adulto na brincadeira ou no jogo da criança é pertinente e se faz necessária. O mesmo autor pondera que:

[...] dentro da atividade, o adulto pode enriquecê-la, aprofundá-la e abrir novas áreas de aprendizagem para as crianças. Pode intervir e estruturar a aprendizagem nessa posição de participante, sem tirar das crianças a condição de proprietárias da atividade, sendo potencializada como uma estratégia [...] o papel do adulto, novamente, é o de facilitador, estimulando e levando as crianças adiante e, simultaneamente, mantendo o interesse e a empolgação. Essa participação do adulto legitima o brincar e incentiva as crianças a verem aquilo que estão fazendo como algo valioso (KITSON, 2006, pp. 118 e 119).

Heaslip (2006, p. 124) afirma que “[...] o papel do adulto não é nem passivo nem ativo. É proativo”, ou seja, embora tenhamos a participação nesse processo, ela precisa ser estruturada para que a ação aconteça de forma satisfatória. Concordamos com o autor e partimos da premissa de que a intervenção deve acontecer no tempo correto para que o desenvolvimento não seja desperdiçado. O mesmo autor ainda aponta que “[...] é frequente que o professor limitado pelo tempo, faça a intervenção que não contribui em nada e que pode, inclusive, desvalorizar a atividade em que as crianças estão envolvidas” (HEASLIP, 2006, p. 125).

Figura 2.4 - Intervenção adequada do adulto na brincadeira da criança
Fonte: Gennadiy Poznyakov / 123RF.

O autor ainda nos mostra o quão importante é a observação de um adulto. Ele questiona que:

[...] para sermos efetivos em nosso conhecimento daquilo que as crianças estão fazendo para determinar a forma e a intervenção que se faz necessária e para termos certeza de qual deve ser o papel do adulto, nós precisamos observar, monitorar, registrar e avaliar. Mesmo depois de uma cuidadosa observação, o professor ainda pode ter dúvidas sobre o exato momento e sobre a melhor forma de intervenção. Sabendo que a exploração é um elemento essencial do brincar e sabendo que, se não houver exploração suficiente, as crianças fracassarão em compreender e aperfeiçoar conceitos, mas também ciente de uma exploração constante pode levar a atividades repetitivas e sem objetivo ou ao tédio e a monotomia, o adulto precisa decidir quando intervir e de que maneira (HEASLIP, 2006, p. 130).

Friedmann (1996, p. 73) discorre que:

[...] as interações sociais ocupam um espaço de destaque no desenvolvimento infantil, pois é a partir delas que a criança tem acesso à cultura, aos valores e conhecimentos universais. A criança tem a oportunidade, através dessa interação com outras crianças e adultos, de cooperar, de competir, de praticar e adquirir padrões sociais que irá usar, mais tarde, nos seus encontros com o mundo.

Santos (2001, p. 98) atribui três funções que podem ser atribuídas e assumidas pelos professores na brincadeira:

A primeira delas é a função de “observador”, na qual o professor procura intervir o mínimo possível, de maneira a garantir a segurança e o direito à livre manifestação de todos. A segunda função é a de “catalisador”, procurando através da observação, descobrir as necessidades e os desejos implícitos na brincadeira para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade. E finalmente, de “praticante ativo”, atuando como um mediador das relações que se estabelecem e das situações surgidas, em proveito do desenvolvimento saudável e prazeroso das crianças.

Wajskop (1996, p. 102) nos faz refletir sobre a nossa postura como profissionais da área da educação. A autora discorre que:

É necessário refletir sobre a relação contraditória existente entre a liberdade de ação e escolha que vivem os pequenos ao brincar e a intervenção do adulto. Esta reflexão poderá nos auxiliar a inserir o jogo ou a brincadeira infantil privilegiada de construção de conhecimento e de estruturação como ser humano.

A autora ainda pondera que devemos realizar os seguintes questionamentos:

  • valorizamos as brincadeiras das crianças?
  • quanto tempo permitimos (ou não) que as crianças brinquem?
  • como organizamos os espaços?
  • quais objetos, entre brinquedos, livros, materiais de sucatas e tantos outros, oferecemos às crianças e em que condições, para que os explorem e utilizem livremente? (WAJSKOP, 1996, p. 102).

Jogos no Desenvolvimento da Criança

De acordo com Piaget (1978), podemos constatar três tipos de jogos que caracterizam-se na evolução do jogo que vai de acordo com a fase de desenvolvimento da criança:

Jogos de exercícios

Inicialmente surgem na forma de exercícios motores com a finalidade prazerosa, com o objetivo de explorar e exercitar os movimentos do seu próprio corpo.

Jogos simbólicos

Esse jogo é de faz-de-conta, em que o objetivo é usado para simbolizar ou representar situações não percebidas no momento. Ocorre de dois a seis anos, onde a tendência lúdica é voltada para o jogo de ficção ou imaginação e de imitação.

Jogos de regras

Essa atividade lúdica implica o uso de regras onde há relações sociais ou individuais em que deve aparecer a cooperação e começa a se desenvolver dos quatro aos sete anos e se intensifica durante toda a vida da pessoa.

Fonte: PIAGET (1978)

São perguntas simples, porém, que nos desafiam a refletir sobre a nossa prática docente. Sabemos verdadeiramente o significado e a importância dessa ação para o desenvolvimento das crianças? Qual é a sua didática frente a esses momentos?

Será que utilizamos o momento das brincadeiras ou os jogos somente para nos “livrar” do planejamento? Se for uma resposta positiva da sua parte, fique atento, pois você não está cumprindo o seu papel de educador, condutor e formador.

REFLITA

Aprendizagem por meio do jogo

Jesús Paredes Ortiz, um dos organizadores do livro “Aprendizagem através do jogo”, pontua que o ser humano pratica atividades ao longo de sua vida, denominadas lúdicas, que lhe servem de distração, recreação, educação, entretenimento e relaxamento de outras atividades consideradas mais sérias, como o trabalho. Mas, quando se estuda a brincadeira no mundo infantil, observamos tanta seriedade como no trabalho mais responsável do adulto. Há contrastes: seriedade e alegria; divertimento e responsabilidade acompanhada de alegria, prazer, paixão ou amor. Será que nós, professores, quando nos deparamos com essa ação em nosso planejamento pedagógico, temos a consciência da importância que essa atividade tem para a criança e como o nosso papel é fundamental nesse processo?

Fonte: Ortiz (2005, p. 9).

Garófano e Cavda (2005, p. 74), em seu artigo “O jogo no currículo da Educação Infantil”, destacam características que fazem do jogo uma ação indispensável para o desenvolvimento da criança. A partir dessa análise, podemos nos perguntar: por que a criança brinca? Eles apresentam as seguintes definições:

  • Para liberar energia.
  • Para se integrar ao meio.
  • Para se preparar para a vida adulta.
  • Porque a atividade é motivadora.
  • Para afirmar a personalidade.
  • Para explorar e descobrir.
  • Para aproveitar o intervalo.
  • Para exteriorizar seus pensamentos.
  • Para descarregar impulsos e emoções.
  • Para acumular suas fantasias.
  • Para realizar tudo aquilo que é proibido no mundo adulto.

Agora, pergunto a você: Qual é a sua análise perante as definições apresentadas? Qual é o seu ponto de vista enquanto profissional da área da educação e enquanto formador de crianças na fase da Educação Infantil?

Considerações Finais

Nesta unidade, podemos concluir que, ao propormos a utilização dos jogos e brincadeiras dentro do contexto educacional, devemos trazer em mente que esses devem ter sempre um propósito e, acima de tudo, ir de encontro aos níveis de conhecimento dos nossos alunos.

Podemos concluir que devem estar sempre bem claros em nossas atividades nossos objetivos, e os tipos de atividades voltadas aos jogos e brincadeiras precisam estar bem definidos e planejados para que os objetivos dessas atividades sejam alcançados.

Durante a execução dos jogos e brincadeiras aliados aos objetivos propostos da atividade, devemos entender que é importante analisarmos atentamente os processos de execução para podermos concluir como ocorre o desenvolvimento dos alunos.

Indicação de leitura

Livro: Jogos e brincadeiras na Educação Infantil

Autor: Tikuko, M. Kishimoto (ORG)

Ano: 2013

Editora: Cortez

ISBN: 9788530810436

Esse livro trabalha os temas: jogos, brinquedos, brincadeiras e a educação para uma prática pedagógica de qualidade, que podemos tomar como base em nossa ação cotidiana em sala de aula. Aproveite a leitura!

Atividade

Ao pensarmos nos jogos e brincadeiras na Educação Infantil, devemos pensar que esses jogos e brincadeiras devem ser permeados de significados para os objetivos acerca da utilização desses sejam cumpridos. A respeito dos objetivos dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil, é correto afirmar que:

Promove maneiras de a criança pensar na solução de problemas que lhes aparecerem de maneira prática, que é o que promovem os jogos e brincadeiras.

Incorreta: A frase expressa de forma correta que os jogos e brincadeiras permitem a solução de problemas por parte das crianças de maneiras práticas.

Promove nos alunos um espírito crítico e extremamente competitivo.

Correta: O objetivo dos jogos não está em desenvolver a competitividade, mas sim o espírito participativo e convivência social.

Os jogos e brincadeiras favorecem a expressão de ideias e da cultura e o desenvolvimento da autonomia da criança.

Incorreta: A frase expressa de forma correta que os jogos e brincadeiras desenvolvem a liberdade de expressão das crianças.

Despertem na criança o sentido de convivência em grupo, ensinando-a a conviver com outras crianças e desenvolvimento o espírito de ajuda mútua e cordialidade.

Incorreta: A frase expressa de forma correta que os jogos e brincadeiras desenvolvem a socialização e o respeito ao próximo.

Os jogos e as brincadeiras devem ser planejados e executados com significado para que, além de desenvolver os aspectos ligados à intelectualidade e motricidade, desenvolvam o espírito de cooperação e aprendizagem efetiva.

Incorreta: A frase expressa de forma correta que os jogos e brincadeiras desenvolvem a cognição e a aprendizagem efetiva.

Atividade

Além da aprendizagem, os jogos e brincadeiras desenvolvem nos alunos o prazer em aprender por serem sujeitos da aprendizagem e desenvolverem autonomia. Dessa forma, jogos e brincadeiras, para terem significado, devem fazer parte da cultura escolar, e, dessa forma, o papel do professor será:

Analisar os diferentes jogos e o aspecto curricular que deve ser desenvolvido em cada um deles.

Correta: Quando se utiliza os diferentes tipos de jogos, analisando a melhor maneira com a qual cada um deles pode contribuir no contexto escolar, teremos uma aprendizagem significativa e concreta.

Utilizar exercícios repetitivos para complementar as aprendizagens por meio de jogos brincadeiras.

Incorreta: Jogos e brincadeiras utilizados de forma repetitiva, remetem a uma falta de objetividade da utilização deles no contexto escolar. Sendo assim, não remete ao correto papel do professor no contexto escolar.

Criar regras para que os alunos que não tenham interesse deixem de fazer os jogos e brincadeiras.

Incorreta: As regras devem existir para orientar o jogo em sala de aula e não para criar caráter excludente.

Deixar claro que as regras devem ser para promover os alunos.

Incorreta: As regras devem existir para estruturar os jogos, mas não devem interferir na aprendizagem.

Utilizar jogos que ajudem os alunos a entender as ciências exatas não auxilia no desenvolvimento da aprendizagem.

Incorreta: Os jogos são fundamentais no ensino das ciências exatas, pois, quando bem planejados e utilizados, desenvolvem o raciocínio e todos os demais aspectos intelectuais.

Atividade

No desenvolvimento do projeto político pedagógico de uma determinada escola, na qual professores e gestores discutiram como utilizar os jogos no processo ensino-aprendizagem, alguns professores, durante essa discussão, expuseram os bons resultados com os jogos no seu cotidiano. Dessa forma, podemos afirmar que os jogos no processo educativo devem promover:

Integração, autoconfiança e aulas tradicionais.

Incorreta: Esta alternativa é incorreta, pois os jogos promovem aulas dinâmicas e inovadoras.

Integração, socialização e autoconfiança.

Correta: Esta alternativa é a correta, pois os jogos promovem a autonomia, a comunicação e interação entre os alunos e com a sociedade.

Integração, apatia e autoconfiança.

Incorreta: Esta alternativa é incorreta, pois os jogos não promovem apatia.

Integração, socialização e desconfiança entre os colegas.

Incorreta: Esta alternativa é a incorreta, pois os jogos não promovem a desconfiança e sim uma autoconfiança para o desenvolvimento das atividades.

Integração, ausência de socialização e autoconfiança.

Incorreta: Esta alternativa é incorreta, pois os jogos promovem a socialização entre os grupos escolares e com a sociedade.

Unidade Concluída

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