Introdução
Olá, caro(a) aluno(a)!
Apresentamos, nesta segunda discussão, os temas: jogos e brincadeiras.
As abordagens tratadas nesta unidade nos possibilitam refletir um pouco mais acerca da função do seguinte item: “Desenvolvimento infantil por meio de jogos: o jogo e a brincadeira”.
Os dois temas, jogos e brincadeiras, fazem parte do planejamento do educador quando na Educação Infantil. Porém, devemos sempre ter em mente a diferença dos significados para explorar os momentos e aproveitar o máximo de cada um deles.
No tópico “Intervenções com jogos, brincadeiras e brinquedos”, discorremos sobre a importância da reflexão da atuação do professor na condução das atividades desenvolvidas pelos alunos, não deixando de enfatizar a importância do seu papel nesse processo tão enriquecedor na fase da criança.
Vocês conhecerão alguns autores que defendem esses momentos e que nos explicam, de maneira “simples” e dinâmica, como podemos utilizá-los no nosso dia a dia.
Desenvolvimento infantil por meio de jogos: o jogo e a brincadeira
Iniciamos a nossa discussão nesta unidade abordando o que entendemos e o que se espera do conceito “jogo” e do conceito “brincadeira” no desenvolvimento infantil. Muitas vezes, confundimos a palavra “jogo” como algo que sempre deverá ter um ganhador e um perdedor e que sempre terá uma competição a ser realizada para que a sua atuação aconteça, seja ela no âmbito escolar, seja ela nas atividades de lazer. Já o termo “brincadeira” entende-se como uma ação que acontece de forma tranquila e prazerosa.
Antunes (2003, p. 9) discorre sobre a importância de sabermos mesclar a palavra “jogo” como um ato educativo, uma vez que, no contexto escolar, ela “[...] se afasta do significado de competição e se aproxima de sua origem epistemológica latina, com sentido de gracejo ou mais especificamente divertimento, brincadeira, passatempo”. E é o mesmo entendimento que temos do conceito “brincadeira” como parte do processo que acontece no cotidiano das crianças, sem cobrança e sem regras.
O mesmo autor ainda pondera que:
[...] os jogos infantis podem até excepcionalmente incluir uma ou outra competição, mas essencialmente visam estimular o crescimento e aprendizagens e seriam melhor definidos se afirmarmos que representam relação interpessoal entre dois ou mais sujeitos [...] mesmo que esse sujeito seja imaginário [...] realizada dentro de determinadas regras (ANTUNES, 2003, p. 9).
Kishimoto (1997, p. 21) apresenta, em suas pesquisas, que, a partir da descoberta da infância e da associação com o brincar e a criança, tem-se entendido o brinquedo e a brincadeira como:
[...] objeto, suporte da brincadeira, supõe relação íntima com a criança, seu nível de desenvolvimento e interdeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organize sua utilização. Uma boneca permite à criança desde a manipulação até brincadeiras como “mamãe e filhinha”. O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Ao contrário, jogos, como xadrez, construção, exigem, de modo explícito ou implícito, o desempenho de habilidades definidas pela estrutura do próprio objeto e suas regras.
Já Friedmann (2006a, p. 69) discorre que “[...] os jogos são sistemas complexos de regras, e as regras morais, por sua vez, foram recebidas pelas gerações anteriores de adultos ao passo que os jogos sociais comportam regras elaboradas pelas crianças”.
Henriot (1989, p. 7) apresenta o termo jogo como:
[...] todo processo metafórico resultante da decisão tomada e mantida como um conjunto coordenado de esquemas conscientemente percebidos como aleatórios para a realização de um tema deliberadamente colocado como arbitrário.
Para Piaget (1978, p. 217), o jogo é:
[...] uma expressão de uma das fases dessa diferenciação progressiva: é o produto da assimilação, dissociando-se da acomodação antes de se reintegrar nas formas de equilíbrio permanente que dele farão seu complemento, ao nível do pensamento operatório ou racional [...] o jogo constitui o pólo extremo da assimilação do real ao eu.

Fonte: Fotorech / Pixabay.
Mas então, qual é a diferença entre o jogo e a brincadeira? Pesquisadores franceses como Brougère (1993) e Henriot (1989) desmistificam o jogo a partir de 3 níveis de diferenciações, sendo: (1) o resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social; (2) um sistema de regras; e (3) um objeto (KISHIMOTO, 2011). Segundo a pesquisa dos franceses:
1. o sentido do jogo depende da linguagem de cada contexto social [...] enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui [...] cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem.
2. um sistema de regras permite identificar, em qualquer jogo, uma estrutura sequencial que especifica sua modalidade [...] tais estruturas sequenciais de regras permitem diferenciar cada jogo, permitindo superposição com a situação lúdica, ou seja, quando alguém joga, está executando as regras do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma atividade lúdica.
3. refere-se ao jogo enquanto objeto [...] objeto empregado na brincadeira (KISHIMOTO, 2011, pp. 18-20).
Nesse sentido, podemos considerar, então, que o brinquedo/brincar é diferente de jogo/jogar. O momento do brincar possibilita a ausência das regras, diferente dos momentos possibilitados pelos jogos, não precisando, dessa forma, que existam regras para que a criança domine o seu objeto ou o seu espaço (KISHIMOTO, 2011).
O brincar é fundamental para o nosso desenvolvimento. É a principal atividade das crianças quando não estão dedicadas às suas necessidades de sobrevivência (repouso, alimentação, etc.).Todas as crianças brincam se não estão cansadas, doentes ou impedidas. Brincar é envolvente, interessante e informativo. Envolvente porque coloca a criança em um contexto de interação em que suas atividades físicas e fantasiosas, bem como os objetos que servem de projeção ou suporte delas, fazem parte de um mesmo contínuo topológico (MACEDO; PETTY; PASSOS, 2005, p. 14).
Bomtempo (1996, p. 81) institui que, se quisermos conhecer bem as crianças, devemos conhecer os seus brinquedos e as suas brincadeiras. Ela discorre que:
[...] brincar representa um fator de grande importância na socialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver numa ordem social e num mundo culturalmente simbólico. Brincar exige concentração durante grande parte de tempo, desenvolve iniciativa, imaginação e interesse. É o mais completo dos processos educativos, pois influencia o intelecto, a parte emocional e o corpo da criança.
Os autores ainda apresentam as diferenças entre o brincar e os jogos. Para eles, em alguns momentos distintos, o brincar e os jogos se completam.
[...] o jogar é um dos sucedâneos mais importantes do brincar, ou seja, jogar é brincar em um contexto de regras e com um objetivo predefinido [...] o brincar é um jogar com ideias [...] no jogo ganha-se ou perde-se [...] na brincadeira, diverte-se, passasse um tempo, faz-de-conta [...] nos jogos às delimitações [...] o jogar é uma brincadeira organizada [...] o jogo é uma brincadeira que evolui [...] a brincadeira é uma necessidade da criança (MACEDO; PETTY; PASSOS, 2005, p. 14).
Kishimoto (2011, p. 26) apresenta a representatividade da brincadeira segundo a teoria piagetiana. Nessa teoria,
[...] a brincadeira não recebe uma conceituação específica. Entendida como ação assimiladora, a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta, dotada de características metafóricas como espontânea, prazerosa, semelhantes às do Romantismo e da biologia. Ao colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não da estrutura cognitiva, Piaget distingue a construção de estruturas mentais da aquisição de conhecimentos. A brincadeira, enquanto processo assimilativo, participa do conteúdo da inteligência, à semelhança da aprendizagem.
A seguir, associamos o jogo à aprendizagem significativa, segundo os estudos de Antunes (2003, pp. 32 e 33) sobre Piaget, nos quais expõe a aprendizagem x jogo:
Quadro 2.1 - Aprendizagem x Jogo
Fonte: Antunes (2003, p. 12).

Fonte: Sergein / 123RF.
O autor citado ainda pondera, a partir dessa exposição, que:
[...] saberes não são cobaias que vêm de fora ou se captam do meio, mas sim processo interativo de construção e reconstrução interior e, dessa forma, jamais será cópia da realidade. Poucas atividades desenvolvidas pela criança em sua interação com o ambiente podem abrigar tantos estímulos [...] como as experiências e os jogos (ANTUNES, 2003, p. 33).
Segundo Kishimoto (2011, p.26),
[...] a partir da teoria de Freud “a brincadeira infantil é o meio de estudar a criança e perceber seus comportamentos”, para Klein a brincadeira é usada “como meio de diagnóstico de problemas das crianças” e para Vygotsky e Bruner “focalizam o contexto sociocultural e a estrutura da linguagem para subsidiar o estudo da brincadeira”.
Vygotsky (1984, p. 63) discorre que:
[...] se todo brinquedo é, realmente, a realização na brincadeira das tendências que não podem ser imediatamente satisfeitas, então os elementos das situações imaginárias constituirão, automaticamente, uma parte da atmosfera emocional do próprio brinquedo. Consideremos a atividades da criança durante o brinquedo. Qual o significado do comportamento de uma criança numa situação imaginária?
Podemos entender, portanto, que as regras impostas no brincar são diferentes das regras impostas nos jogos, mesmo sabendo que, em situações imaginárias como o brincar, as crianças podem formar as suas próprias regras. Os jogos e as brincadeiras são decisivos no desenvolvimento das crianças, pois as colocam em diferentes situações com problemas que possibilitam significados diferentes.