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Unidade 1


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Introdução

Olá, caro(a) aluno(a)!

Estamos iniciando a discussão de um tema relevante e muito significativo no contexto escolar: o espaço lúdico, percorrendo pelo processo “brincar”.

As abordagens tratadas nesta unidade nos possibilitam refletir um pouco mais acerca da função dos seguintes itens: “O papel da escola no desenvolvimento infantil a partir do brincar” e “O brincar no contexto educacional”.

No tópico “O papel da escola no desenvolvimento infantil a partir do brincar”, discorremos sobre as leis que norteiam a Educação Infantil e aprofundamos, também, na base nacional curricular comum (BNCC), de 2017, e sobre os seus Eixos norteadores na Educação Infantil, assim como a atuação e intervenção da escola nessa ação.

O tópico “O brincar no contexto educacional” nos possibilita adentrar nos conhecimentos de Vigotski e Piaget e debruçar sobre a importância das suas pesquisas para as ações de desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social da criança.

O papel da escola no desenvolvimento infantil a partir do brincar

Para que possamos entender melhor o papel da escola no desenvolvimento infantil a partir do brincar, temos de nos embasar nos conhecimentos da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que é vigente até o momento, e descrever o quanto é importante o envolvimento desse contexto na formação de pessoas.

A Lei de Diretrizes e Bases – LDB (9394/96) explicita, em seu art. 1º, que:

a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996, s.p.).

A educação acontece em todas as esferas da sociedade, e a lei vem favorecer para que todos tenham direito ao pleno desenvolvimento humano. A Lei nº 9394/96 ainda especifica, em seu art. 2º, que “[...] a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996, s.p.).

Embora a LDB institua a formação integral para a qualificação para o mercado de trabalho e também apresente as benfeitorias para os demais graus da etapa de educação humana, nossa proposta, neste momento, é apresentaremos somente informações sobre a Educação Infantil.

Na Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, pontua, em seu art. 29, que:

A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 2013, on-line).

E, em seguida, no art. 31, esclarece que essa etapa de desenvolvimento, ou seja, a etapa da Educação Infantil, será definida da seguinte forma, de acordo com as regras da lei:

I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional;
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;
V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança (BRASIL, 2013, on-line).

Podemos considerar que o papel da escola, nessa fase, vem ao encontro ao que a lei nos apresenta, já que ela é primordial no desenvolvimento intelectual da criança. Nessa fase, a possibilidade de atuação para diferentes competências também é atribuída pela Base Nacional Comum Curricular, que apresenta a Etapa da Educação Infantil, destacando “A Educação Infantil na Base Nacional” (BRASIL, 2017).

Na Base disponibilizada, recorda-se a expressão “pré-escolar”, muito usada na década de 1980, em que a Educação Infantil vinha em uma etapa posterior. Porém, discorre-se sobre a mudança ocasionada na promulgação da Lei de 1996:

Com a Constituição Federal de 1988, o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de idade torna-se dever do Estado. Posteriormente, com a promulgação da LDB, em 1996, a Educação Infantil passa a ser parte integrante da Educação Básica, situando-se no mesmo patamar que o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. E a partir da modificação introduzida na LDB em 2006, que antecipou o acesso ao Ensino Fundamental para os 6 anos de idade, a Educação Infantil passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos. Entretanto, embora reconhecida como direito de todas as crianças e dever do Estado, a Educação Infantil passa a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos apenas com a Emenda Constitucional nº 59/2009, que determina a obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Essa extensão da obrigatoriedade é incluída na LDB em 2013, consagrando plenamente a obrigatoriedade de matrícula de todas as crianças de 4 e 5 anos em instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2017, pp. 33- 34).
Figura 1.1 - A importância da brincadeira na Educação Infantil: desenvolvimento da autonomia e liberdade de expressão
Fonte: Yohoprashant / Pixabay.

SAIBA MAIS

Base Nacional Curricular Comum: a educação é a base

Leia na íntegra a “Base Nacional Curricular Comum (BNCC): educação é a base”. Aproveite e aprimore os seus conhecimentos, pautando-se no que há de mais novo sobre a Educação Infantil. Para ler na íntegra, acesse o link a seguir.

<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/>.

Pontuada como a primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil veio para ser um divisor de águas entre somente o vínculo familiar da criança, para que se incorporem em uma socialização mais estruturada, como no contexto escolar.

As escolas de Educação Infantil se consolidam com a concepção de cuidar e educar, entendendo que ambos são indissociáveis do processo educativo. As instituições de Educação Infantil possuem uma tarefa árdua com:

[...] o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação (BRASIL, 2017, on-line).

O art. 4º, da Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, pela Resolução CNE/CEB nº 5/2009, descreve a criança como:

[...] sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009, on-line).

A Diretriz, em seu art. 9º, pontua que os eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da Educação Básica são:

[...] as interações e a brincadeira, experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização. A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções (BRASIL, 2009, on-line).

Ao considerar os eixos estruturantes das práticas pedagógicas, com a junção das competências da Educação Básica apresentadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), pontuam-se seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento para a Educação Infantil, nas quais possam desempenhar o seu papel ativo no processo da aprendizagem.

Você, futuro(a) professor(a) da Educação Infantil ou já atuante na área, tem de compreender e conscientizar-se sobre o seu papel de autor de excelência para com o desenvolvimento de crianças. Poucos possuem esse “dom” de se assumir como protagonista de uma educação, que será a estrutura/base para o desenvolvimento intelectual desse ser humano.

Portanto, apresentamos, a seguir, os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil, conforme a BNCC:

Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário (BRASIL, 2017, on-line).

Nesse momento, a escola torna-se a referência, pois as atividades direcionadas às crianças, nessa fase, devem ter intencionalidade educativa e práticas pedagógicas.

Segundo a BNCC:

Essa intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas. Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças. Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto às aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças (BRASIL, 2017, on-line).

O papel do professor, nessa etapa, é fundamental para o desenvolvimento completo da criança. Nesse sentido, Vigotski (1991, p. 115) pondera que o desenvolvimento projeta a aprendizagem para um novo panorama, provocando novas formações:

[...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente.

O mesmo autor ainda discorre sobre a importância do brincar nesse contexto:

Apesar de a relação brinquedo-desenvolvimento poder ser comparada com a relação instrução-desenvolvimento, o brinquedo fornece ampla estrutura básica para mudanças da necessidade e da consciência. A ação na esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas - tudo aparece no brinquedo, que se constitui, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. A criança desenvolve-se, essencialmente, através do brinquedo (VIGOTSKI, 2007, p. 122).

Segundo Friedmann (2006a, p. 20), as pessoas que lidam diretamente com as crianças apresentam diferentes “conselhos” sobre o processo do brincar e a sua importância. As respostas são muitas, como: “[...] é um momento de diversão; a criança pode se expressar nas brincadeiras; a criança descarrega energias e agressividade ao brincar; as crianças interagem entre si enquanto brincam e as crianças se desenvolvem e aprendem brincando”. Diante do exposto, qual é a sua opinião sobre esse processo?

Portanto, os professores educadores devem ser capazes de entender e diagnosticar em qual fase do desenvolvimento e em qual momento da aprendizagem as crianças se encontram, para posterior planejamento de novas aprendizagens e domínios. Consideramos, ainda, que:

[...] o professor (a) deve conhecer os interesses da criança, conhecer as necessidades inerentes a ela em cada estágio, para, assim, adentrar no universo da cultura infantil, permitindo que a ação seja significativa e promotora de novas mudanças comportamentais, motoras, cognitivas e sociais (SOUZA, 2015, p. 16).
Figura 1.2 - O papel do professor no desenvolvimento da ludicidade
Fonte: Cathy Yeulet / 123RF.

O brincar, nessa fase, é considerado prioridade, pois, conforme apresenta Stone (1982, p. 10), “[...] o brincar é recreação […] porque ele recria continuamente a sociedade em que é executado”. E, no contexto escolar, o brincar não pode ser pensado de forma diferente. Conforme afirma Moyles (2006, p. 13), “[...] o brincar em situações educacionais, proporciona não só um meio real de aprendizagem, como permite também que adultos perceptivos e competentes aprendam sobre as crianças e suas necessidades”, ou seja, é por meio da aplicação de brincadeiras e observações do adulto que será percebida a capacidade do processo educativo.

Podemos considerar, então, que o papel da escola e a atuação do professor, nessa fase, é de suma importância, pois eles possuem a obrigação de tornar essa experiência prazerosa. Por meio das atividades lúdicas, realizadas principalmente no contexto escolar, os profissionais terão informações elementares das crianças, como: a sua interação com os demais colegas (grupo), o seu nível linguístico, a sua formação moral, bem como as suas emoções.

Por fim, consideramos que o brincar é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento social e psicológico do início da fase humana, tendo como foco o desenvolvimento infantil, no contexto escolar, como um estímulo e desencadeador de intervenções de práticas pedagógicas direcionadas com objetivos estratégicos. Essa atividade possibilita uma variedade de experiências em diferentes situações e oportuniza aprendizagem de forma prazerosa e harmônica.

Para complementar seus conhecimentos neste tópico, siga e estude a indicação a seguir.

SAIBA MAIS

Educação Infantil: um olhar sobre as perspectivas atuais a partir da concepção das brincadeiras

O artigo de Antônio Júnior de Oliveira e Renata Ferreira dos Santos Oliveira servirá para você ter uma visão da importância da Educação Infantil no desenvolvimento da infância. Um ponto fundamental que você poderá compreender por meio dele é a importância da formação docente nesse processo de ensino e aprendizagem por meio dos jogos, ressaltando de que maneira esse processo deve ser utilizado em sala de aula, bem como ele deve ser conduzido.

Para saber mais, acesse o artigo “Educação Infantil: Um Olhar Sobre as Perspectivas Atuais a Partir da Concepção das Brincadeiras”, de Antônio Júnior de Oliveira e Renata Ferreira dos Santos Oliveira.

<https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/concepcao-das-brincadeiras>.

No próximo tópico, abordaremos as concepções da brincadeira no contexto educacional, bem como a importância dela no desenvolvimento infantil, utilizando-a de forma adequada.

O brincar no contexto educacional

Considerando a Base Nacional Comum Curricular de 2017, e, ainda, a Educação Infantil como nosso norteador, a Base apresenta eixos estruturantes para o desenvolvimento das crianças nessa etapa, tendo como destaque as interações e a brincadeira, definidos como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. A seguir, para conhecimento, expõe-se, de maneira resumida, os cinco campos de experiências instituídas pelo BNCC (2017):

O eu, o outro e o nós É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais [...].
Corpo, gestos e movimentos Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem [...].
Traços, sons, cores e formas Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos [...].
Escuta, fala, pensamento e imaginação – Desde o nascimento, as crianças participam de situações comunicativas cotidianas com as pessoas com as quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Progressivamente, as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veículo privilegiado de interação [...].
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc.) [...].

Quadro 1.1 - Informações da Base Curricular Comum Nacional, 2007
Fonte: BRASIL (2017, on-line).

O brincar, no contexto educacional, deve ser considerado uma aprendizagem, ou seja, deve ser um momento pensado, planejado, desenvolvido e executado por um profissional qualificado, que acompanhará os resultados e progressos dessa ação.

Friedmann (2006b, p. 52) pondera que:

A escola é um elemento de transformação da sociedade, e sua função é contribuir, junto com outros setores, para que as mudanças necessárias se efetivem. Para isso, deve considerar as crianças como seres sociais e trabalhar para que sua integração se dê de maneira construtiva [...] a educação deve privilegiar o contexto socioeconômico e cultural das crianças, reconhecendo as diferenças entre elas, seus valores e sua bagagem de conhecimento. [...] propiciar a todas um desenvolvimento integral e dinâmico (cognitivo, afetivo, linguístico, social, moral e físico-motor), bem como o acesso aos conhecimentos socialmente disponíveis do mundo físico e social.

Ao destacar a importância do contexto educacional e tomando como base o desenvolvimento da criança de forma integral, é crucial que a escola realize e possibilite atividades compartimentadas. A escola deve “[...] instrumentalizar as crianças de forma que possibilite a construção de sua autonomia, criticidade, criatividade, responsabilidade e cooperação” (FRIEDMANN, 2006b, p. 52).

Educação Infantil

A brincadeira na educação infantil exige que o professor tenha plena formação para que possa utilizá-la como uma importante ferramenta de aprendizagem, pois é por meio dela que as crianças ao utilizá-la no processo ensino aprendizagem passarão por diversas faces do conhecimento integrados a sua imaginação e prazer com a
atividade. Dessa forma, de um modo geral, o brincar proporciona ao processo ensino-aprendizagem na educação infantil:

Desenvolve a autonomia e imaginação dos alunos;

Auxilia de forma positiva no processo ensino-aprendizagem quando ela é bem planejada e sistematizada ao contexto escolar;

Proporciona ao aluno momentos de aprendizagem real e concreta;

Desenvolve a motricidade;

Implica no desenvolvimento das funções psicológicas superiores;

Proporciona momentos de prazer e socialização;

Desenvolve o espírito coletivo.

A aprendizagem se traduz e acontece de forma concreta, pois há a participação ativa dos alunos.

Segundo Moyles (2006, p. 14), é o brincar, com objetivo de aprendizagem e desenvolvimento, que separa o brincar do momento recreativo. Para a autora, “[...] os educadores precisam mostrar claramente que, e o que, as crianças estão aprendendo por meio do brincar. Isso precisa ocorrer em ambiente educacional”. Com isso, podemos considerar, então, que o brincar é um instrumento de aprendizagem.

Friedmann (2006b, p. 20) pontua que:

[...] para a criança, o brincar implica muito mais do que o simples ato em si. Brincando, ela se expressa e comunica com o mundo. Para o adulto, o brincar constitui um “espelho”, uma fonte de dados para compreender melhor como se dá o desenvolvimento infantil.

Concordamos com Friedmann e discorremos, também, sobre o apontamento de Moyles (2006, p. 16), que considera a atitude do adulto/professor nesse desenvolvimento como uma “[...] provisão de um brincar de alta qualidade e do seu desenvolvimento nisso, eles logo descobrem como é difícil para um adulto brincar com uma criança”, pois, a partir do brincar e de suas consequências observadas por esse adulto/professor, podem ser elevados o padrão da educação.

Ponderamos o que o grande pesquisador Vigotski (1978) apresenta sobre a atuação do (professor/adulto) quando desempenha um papel-chave na aprendizagem de crianças em fase de desenvolvimento escolar. O autor “descobriu” o que chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP).

Figura 1.3 - Crianças no âmbito escolar
Fonte: Klimkin / Pixabay.

Ao discorrer sobre a ZDP, o pesquisador apresentou a ideia de que “[...] a criança pode ter desenvolvido um certo nível de competência em uma habilidade, que pode ser realizada de forma independente e sem ajuda”, o que ele chama de nível de desenvolvimento real (MOYLES, 2006, p. 36). O mesmo autor, descrevendo a pesquisa de Vigotski (1978), oportuniza a importância dessa aproximação. Para Vigotski, se essa aproximação for feita e ajudada por um adulto,

[...] essa capacidade pode ser um pouco mais ampliada, para que a criança possa tentar algo levemente mais difícil. Obviamente, ela não pode ser excessivamente ampliada ou a criança não compreenderá o que o adulto quer que ela faça. Esse nível é chamado desenvolvimento potencial. A diferença entre esses dois é a ZDP – a área de desenvolvimento que a criança é capaz de manejar e compreender com a ajuda do adulto (ou com a ajuda de seus pares mais capazes) (MOYLES, 2006, p. 36).

Felipe também apresenta a ideia de Vigotski (2001, p. 29) como:

[...] o funcionamento psicológico estrutura-se a partir das relações sociais estabelecidas entre o indivíduo e o mundo exterior. Tais relações ocorrem dentro de um contexto histórico e social, no qual a cultura desempenha um papel fundamental, fornecendo ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade. Isto permite construir uma certa ordem e uma interpretação do mundo real. Desta forma, o desenvolvimento psicológico não pode ser visto como um processo abstrato, descontextualizado ou universal.

A perspectiva teórica do sociointeracionismo considera “[...] o papel do adulto frente ao desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer sua autoestima e desenvolver suas capacidades” (FELIPE, 2001, p. 31).

Piaget (1896-1980), criador da epistemologia genética, dedicou-se às suas pesquisas para tentar responder como se constrói o desenvolvimento. Chegou à conclusão de que o conhecimento se forma aos poucos, por meio de uma construção progressiva do próprio indivíduo. Conforme as suas pesquisas, tal construção se desenvolve a partir de três períodos: (1) período sensório-motor, (2) período da inteligência representativa e (3) período das operações mentais.

Friedmann (2006a, p. 62) discorre sobre a descoberta de Piaget, que apresenta que “[...] a aprendizagem se opõe ao desenvolvimento, uma vez que é geralmente provocada por situações criadas pelo educador, psicólogo ou pesquisador, ou determinada por uma situação interna [...] sendo ela provocada ela se opõe à espontaneidade”.

A autora ainda sintetiza que:

[...] a aprendizagem é um processo de aquisição decorrente da experiência (a atuação do sujeito sobre o meio). A transformação do objeto depende, em cada momento, dos esquemas assimiladores disponíveis do sujeito. Estes são indispensáveis à aprendizagem, porque objeto de uma construção do sujeito a partir da sua ação sobre a realidade. Aprender é assimilar o objeto a esquemas mentais. A aprendizagem é, portanto, uma aquisição que ocorre em razão do desenvolvimento (FRIEDMANN, 2006a, p. 62).

Antunes (2003, p. 19) trata do olhar de Piaget quanto ao brincar como:

[...] elemento que estrutura a situação simbólica inerente à brincadeira. A criança que brinca está desenvolvendo sua linguagem oral, seu pensamento associativo, suas habilidades auditivas e sociais, construindo conceitos de relações espaciais e se apropriando de relações de conservação, classificação, seriação, aptidões visuoespaciais e muitas outras.

Nesse sentido, o contexto escolar é o local onde o brincar ou “atividade lúdica” ajudará a criança a ter a autoafirmação ou a consolidação do “eu”. É nesse processo que acontecerá o intercâmbio da afetividade entre si e os adultos/professores, ou seja, o brincar, nessa fase e nesse contexto, é uma “porta aberta” emocional e de desenvolvimento global das crianças.

REFLITA

O real sentido do brincar nas escolas

De acordo com Fortuna (2008, p. 4), “[...] defender o brincar na escola, por outro lado, não significa negligenciar a responsabilidade sobre o ensino, a aprendizagem e o desenvolvimento”.

Dessa forma, reflita: no seu ponto de vista, depois do que vimos nesta unidade, qual é o real papel do professor nas brincadeiras dentro da sala de aula pensando na formação integral dos alunos.

Fonte: Fortuna (2008).

Considerações Finais

Brincadeiras na Educação Infantil só têm a colaborar com o desenvolvimento dos alunos, pois desenvolvem a criança como um todo quando são bem pensadas e planejadas pelo professor.

Portanto, podemos considerar que, ao observar as brincadeiras das crianças na escola, os professores podem e devem ficar mais atentos às diferentes maneiras com que as crianças exploram, compreendem e representam essa ação, portanto trata-se de uma fonte riquíssima de informações para esses profissionais.

Devemos ter a consciência de que a brincadeira exige uma formação docente com um olhar atento ao que o aluno sabe e o que ele é capaz de aprender, devendo ser consideradas as diferentes formas de aprendizagem de cada aluno.

Indicação de leitura

Livro: Jogos e brincadeiras: tempos, espaços e diversidade

Autores: Tizuco Morchida Kishimoto e Maria Walburga dos Santos

Ano: 2016

Editora: Cortez

ISBN: 978-85-249-2491-0

Este livro aborda diversos tipos de jogos e brincadeiras e apresenta grandes considerações sobre o papel deles na Educação Infantil, bem como a função do professor no desenvolvimento dos alunos por meio deles. Um dos focos abordados pelas autoras foi o papel da ludicidade no desenvolvimento infantil.

Indicação de leitura

Livro: O desenvolvimento da criança através do brincar

Autora: Adriana Friedmann

Ano: 2019

Editora: Moderna

ISBN: 85-16-05315-6

A leitura deste livro oportuniza a você uma grande reflexão, ao pensar em questões como: “Qual é o valor do brincar para o processo de desenvolvimento da criança? Qual é a diferença de brincar em casa e brincar na escola?”. Essas serão algumas das indagações que possibilitam adentrar nesse universo magnífico do brincar e a sua importância para o desenvolvimento.

Atividade

De acordo com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), é correto afirmar que é direito de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil:

Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.

Correta: A criança ao brincar desenvolve-se como um todo e é capaz de se perceber como um sujeito ativo socialmente.

Não se manter como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, ou seja, se manter passivo no processo de ensino e aprendizagem.

Incorreta: A criança desenvolve sua comunicação com outras crianças e se torna ativa no processo ensino-aprendizagem.

A ampliação da cultura não é algo que deve ser levando em consideração para o desenvolvimento do aluno na Educação Infantil.

Incorreta: A criança deve explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.

Conviver em grupo é parte do desenvolvimento na Educação Infantil, mas a convivência com adultos não é importante para aceitar as diferenças entre as pessoas.

Incorreta: A criança deve conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.

O planejamento da gestão da escola não deve ter a participação de adultos e crianças da comunidade escolar, mas somente dos gestores da escola.

Incorreta: Crianças e adultos da comunidade escolar devem participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.

Atividade

Quando falamos do brincar na Educação Infantil, é importante que a criança construa sua identidade pessoal, social e cultural, sabendo da sua real importância na sociedade. Sendo assim, podemos afirmar que a escola se torna a referência, pois as atividades direcionadas às crianças, nessa fase, devem ter intencionalidade educativa e práticas pedagógicas. Sobre essa intencionalidade docente acerca da educação, segundo a BNCC, é correto afirmar que:

Ela consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas.

Correta: Esta é a alternativa correta, pois as crianças na Educação Infantil devem ser motivadas a conhecer-se como parte importante na sociedade, bem como conhecer seus direitos e deveres mesmo que na infância. É nessa fase que as crianças são motivadas a interagirem socialmente e a compreenderem e a respeitarem a si mesmo e aos outros.

O trabalho do educador é somente planejar as situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças.

Incorreta: O trabalho do educador não é somente organizar e planejar as situações da sala de aula, mas refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças.

Durante o exercício das práticas, no que se refere às aprendizagens das crianças, é necessário somente aplicar o planejamento, sem pensar na trajetória de cada criança e de todo o grupo.

Incorreta: É preciso que o professor realize a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens durante o exercício da sua prática.

A prática por si só é suficiente para o professor ver e analisar o desenvolvimento de cada aluno.

Incorreta: Além da prática, é por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), que se evidencia a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”.

É necessário, somente, organizar as situações da sala de aula, e essas situações serão suficientes para o desenvolvimento dos alunos.

Incorreta: Para a Educação Infantil ser efetiva, deve-se reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças.

Atividade

Os brinquedos e brincadeiras são muito importantes para o desenvolvimento das crianças e, quando utilizados de maneira correta, a aprendizagem será efetiva. Dessa forma, assinale a alternativa correta.

A brincadeira ajuda a criança a construir novas possibilidades de ação.

Incorreta: Não podemos afirmar que esta alternativa está incorreta, pois a brincadeira desenvolve a criança em vários aspectos da vida humana e a prepara para se inserir em sociedade.

A brincadeira promove a afetividade, a socialização e equilíbrio social e emocional.

Incorreta: Não podemos afirmar que esta alternativa está incorreta, pois a brincadeira desenvolve a criança no sentido afetivo, emocional, social e intelectual, ou seja, como um todo.

O papel do professor está em selecionar as brincadeiras que as crianças brincarão.

Correta: Esta alternativa é a correta, pois ela está errada no sentido de que o professor deve planejar essas brincadeiras e conduzir o processo ensino-aprendizagem na execução delas, não somente selecioná-las.

Quando a criança brinca, ela expressa todas as suas formas de linguagem, pois ela tem sua autonomia liberada para expressar-se.

Incorreta: Não podemos afirmar que esta alternativa está incorreta, pois, quando brinca, a criança se expressa de diversas maneiras por meio de diferentes linguagens, proporcionando uma ampliação cultural e um desenvolvimento integral de sua cognição e motricidade.

Ao brincar, a criança precisa do professor para se desenvolver e não se desenvolve nos aspectos afetivo e cognitivo.

Incorreta: A criança ao brincar deve ser mediada pelo professor, mas o professor deve ser a ponte que liga o aluno à aprendizagem, ao invés de dar essa aprendizagem e os conhecimentos prontos, para que a criança possa se desenvolver como um todo. 

Unidade Concluída

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